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Sexting

Pessoas preferem traições com robôs do que com prostitutas, revela estudo

Felipe Germano

10/01/2019 04h23

Um homem casado entra em um bordel. Ele vai trair — mas isso pode acontecer de duas formas. Ou 1 – ele vai para cama com uma prostituta. Ou, 2- ele vai botar um par de chifres, digamos, metálicos, em sua amada: se deitando com um robô. Mas não uma máquina qualquer, um robô feminino tão realista que é, na prática, impossível diferenciar de uma mulher real. Exatamente como acontece em Westworld.

A traição de um dos casos é pior? De acordo com um novo estudo da Universidade de Helsinque, na Finlândia, a resposta é sim. As pessoas tendem a condenar mais o infiel quando ele faz sexo com outro ser humano, mesmo se o robô em questão tenha comportamentos e visuais idênticos à de um ser humano de verdade.

Para chegar à conclusão, os pesquisadores ouviram 432 participantes. As quatro centenas de pessoas foram divididas em grupos menores, onde cada um escutava a mesma história de alguém indo ao bordel, só que com pequenas alterações.

Alguns ouviam que era um homem que caia na farra, outros eram ditos que se tratava de uma mulher. Alguns falavam que o cliente em questão era solteiro, outros que era casado. E, principalmente, metade ouvia que o protagonista ia para a cama com humanos, e os outros 50% recebiam a informação de que a farra tinha sido com robôs iguaizinhos à pessoas de carne e osso.

Depois da historinha, os participantes tinham que responder, em uma escala de 0 a 7 perguntas que mediam quanto aquela história havia lhes afetado negativamente. Entre as questões estavam indagações como "Quão irritado o protagonista te deixou?", ou "Quão abominável foi a atitude do protagonista?".

Os casos que causaram o maior repulsa foram os que contavam com protagonistas casados e que se envolveram com seres humanos. Nessas ocasiões o grau de condenação dos personagens era 25% maior do que quem se envolvia com robôs – mesmo estando com aliança no dedo.

É interessante notar que, em todos os casos, as mulheres foram julgadas mais rigorosamente do que os homens. A nota média da reprovação direcionada à elas foi de 3,2 (naquela mesma escala de 0 a 7), os homens, que passaram exatamente pelas mesmas situações, marcaram 2,7. Parece pouco, mas é uma culpabilização 18% maior.

"Esses resultados são a pedra fundamental para novos caminhos nas pesquisas", afirmam os pesquisadores, na conclusão do estudo. "Futuros estudos poderão oferecer novas possibilidades para entender tanto a cognição sexual humana quanto a moral, concentrando-se em como os seres humanos se relacionam com relações sexuais com os andróides — além das meras fantasias produzidas pela ficção científica como o Blade Runner", completam.

A pesquisa pode até soar absurda, mas ela está só se adiantando um pouco. E é pouco mesmo. Robôs sexuais já são uma realidade. Você mesmo pode comprar uma agora. A mais famosa do ramo, a Harmony, é vendida online desde o ano passado, mas é bom você ter uma grana em caixa, a brincadeira sai no minimo por US$8 mil (R$29 mil) – e se você quiser customizá-la (com olhos pintados a mão, ou até a possibilidade de incluir no pacote um pênis removível) o valor pode dobrar.

Harmony é só um produto, em meio de uma indústria inteira. Em 2017, por exemplo, a empresa de bonecas realistas Dutch Wifes vendeu, só no Japão, mais de 2.000 unidades. Ainda é pouco, quando se pensa em escala global, mas ao mesmo tempo, estabelecimentos para o uso dessas bonecas, os verdadeiros bordeis de robôs, começam timidamente a ganhar espaço na Europa e Ásia. Sempre enfrentando, no entanto, protestos de pesquisadores e grupos militantes que clamam que tais brinquedos reforçam ainda mais a ideia de que mulheres são objetos.

"Como os robôs sexuais em breve entrarão na produção em massa, a opinião pública se pré-estabilizará a respeito das atitudes morais em relação ao sexo com os robôs.", afirmam os pesquisadores. É bom a gente se preparar, porque a qualquer momento, poderemos ser os chifrados pelos robôs-de-bordel. E aí quero ver não achar ruim.

Sobre o Autor

Felipe Germano é jornalista que escreve sobre Comportamento Humano, Saúde, Tecnologia e Cultura Pop. Para encontrar as boas histórias que procura contar, atravessa o planeta: visitou de clubes de swing e banheiros do sexo paulistanos à sets de cinema hollywoodianos. Trabalhou nas redações da rádio Jovem Pan, site Elástica, Revista Época e Revista Superinteressante - e agora colabora com o UOL.

Sobre o Blog

Sexo é o que há de mais antigo nesse planeta, e tecnologia nos traz o que há de mais moderno. Mesmo sem saber quem foi nosso antepassado mais antigo, dá para cravar: ele transava. Mas se engana quem acha que o sexo não mudou nada desde a primeira vez. A tecnologia evoluiu, e com ela nossos hábitos na cama (ou no chão, ou no celular...). Mas dá para juntar tudo, e divertir-se. Muito prazer, esse é o Sexting.