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Sexting

Fazendo as pazes na cama: o que a ciência diz sobre sexo de reconciliação?

Felipe Germano

23/07/2020 04h00

Pablo Merchán Montes / Unsplash

Em 1991, Leandro e Leonardo conseguiram um feito que nem Camões foi capaz. Eles traduziram para o português essa trama única e peculiar que é o sexo de reconciliação. Cantaram:

E se de dia a gente briga, à noite a gente se ama
É que nossas diferenças se acabam no quarto
Em cima da cama".

É o Abaporu do sertanejo sexual.

Que estes artistas carregados de dor e tesão falaram bonito é indiscutível… mas eles disseram a verdade? Um estudo da Universidade de Auckland diz que não.

A instituição neozelandesa* se uniu à Universidade Estadual da Flórida para analisar o sexo de reconciliação sob a ótica da ciência.

E os resultados mostraram que pessoas tendem a se mostrar menos satisfeitas com o sexo, se a transa acontecer depois de uma briga.

Não só isso. Brigar diminuía em quase pela metade as chances de um casal transar pelos dois dias seguintes.

Um efeito positivo, no entanto, foi encontrado: nas datas em que havia discussões seguidas de sexo, era relatado um menor índice de insatisfação com o relacionamento. Mas o efeito durava pouquíssimo. No dia seguinte, os dados voltavam ao normal.

Para chegar a essa conclusão, os responsáveis entrevistaram 107 casais heterossexuais recém-casados. Os voluntários tinham que preencher, durante 14 dias, uma ficha detalhada sobre sua rotina, comportamentos e vida sexual.

As pesquisas eram preenchidas individualmente, sem que os respondentes soubessem das respostas de seus parceiros.

No questionário era pedida uma autoavaliação sobre sua vida matrimonial, satisfação sexual e para indicar se naquele dia tinha rolado algum desentendimento com o respectivo cônjuge.

Os pesquisadores, então, esperaram seis meses e refizeram as pesquisas com as mesmas pessoas –para entender se os resultados anteriores eram algo muito específico daquelas duas semaninhas, não algo representativo.

Ao seu fim, a pesquisa tinha 2.539 fichas diárias preenchidas, com 864 dias de sexo relatados, 494 brigas em dias diferentes, e 140 dias em que sexo e brigas coexistiram. Bastou, então, cruzar os dados.

"Nosso estudo não apoia a ideia de que o sexo de reconciliação é mais apaixonante ou sexualmente satisfatório", afirmou em comunicado a doutora Jessica Maxell, da Universidade de Auckland.

"Quando casais se perguntam se deveriam transar depois de um conflito, acho que eles deveriam ter na cabeça que sexo pode até ter um benefício de curto prazo, por anestesiar as insatisfações matrimoniais no dia da briga, mas ele talvez não seja tão satisfatório quanto nossa cultura diz, e nem ajudará à longo prazo", completa.

Sendo assim, peço que vocês não se esqueçam: a incrível canção que abre o texto, Paz na Cama, deve ser lida como uma obra de ficção. Uma incrível obra de ficção.

* Erramos: diferentemente do que dizia o texto, a Universidade de Auckland é uma instituição neozelandesa, e não australiana. O texto foi corrigido.

Sobre o Autor

Felipe Germano é jornalista que escreve sobre Comportamento Humano, Saúde, Tecnologia e Cultura Pop. Para encontrar as boas histórias que procura contar, atravessa o planeta: visitou de clubes de swing e banheiros do sexo paulistanos à sets de cinema hollywoodianos. Trabalhou nas redações da rádio Jovem Pan, site Elástica, Revista Época e Revista Superinteressante - e agora colabora com o UOL.

Sobre o Blog

Sexo é o que há de mais antigo nesse planeta, e tecnologia nos traz o que há de mais moderno. Mesmo sem saber quem foi nosso antepassado mais antigo, dá para cravar: ele transava. Mas se engana quem acha que o sexo não mudou nada desde a primeira vez. A tecnologia evoluiu, e com ela nossos hábitos na cama (ou no chão, ou no celular...). Mas dá para juntar tudo, e divertir-se. Muito prazer, esse é o Sexting.