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Coelhinho: como o animal se tornou símbolo do sextoy mais famoso do mundo

Felipe Germano

19/04/2019 04h00

Coelhinho da Páscoa, o que trazes pra mim? Olha, depende de qual coelho estamos falando aqui. Por que um deles pode te dar bem mais que um ou três ovos. Ele pode te dar um orgasmo.

O Rabbit é o vibrador mais famoso do mundo. Sua história tem pouco a ver com a Páscoa, mas envolve censura japonesa, signos – e seriados. Uma leitura para apimentar a noite depois de um jantar de família.

A história toda começa em 1983. A americana Shay Martin começava sua marca de Sextoys, a Vibratex, quando percebeu uma tendência curiosa no mercado internacional: os vibradores japoneses eram completamente excêntricos.

Vibrador-castor

A culpa era da censura. O governo nipônico possuía leis que condenavam a produção de produtos "obscenos". Na prática, fabricar um pênis de borracha colorido que vibrava quando alguém queria gozar era terminantemente proibido. A indústria, no entanto, podia brincar com produtos menos explícitos.

A saída foi criar vibradores camuflados. Eles tinham forma de bichinhos, desenhinhos, fofurinhas no geral – e, de quebra, faziam qualquer um gozar do mesmo jeito.

A driblada na censura conquistou Shay. Era o trunfo que ele precisava para se destacar nas prateleiras americanas – que naquela época eram abastecidas majoritariamente por produtos made in China. Como os chineses não censuravam sextoys, os vibradores costumavam ser falos emborrachados que tremiam. Bem mais sem graça.

O coelho, no entanto, ainda não sairia da cartola neste momento. Shay se inspirou nos modelos nipônicos e lotou as lojas sexshops de vibradores animalescos. O coelhinho até então nem lá estava. Os produtos tinham formas de outros animais, como castores, cangurus, ou até mesmo tartarugas.

 

Todos tinham o mesmo diferencial: eram duplamente estimulantes. Além do falo propriamente dito, o bichinho acoplado ao vibrador possuía um motor para si. Na prática ele era perfeito para estímulos externos, focando principalmente em clítóris. Foi quando os designers da vibratex resolveram implementar uma terceira sensação que o coelho apareceu.

A novidade seria uma camada de pequenas esferas, do tamanho de pérolas, que colocadas dentro do vibrador trariam novos estímulos (e prazeres). O animal escolhido para dar início à linha chamada de pearl foi, adivinhe só, o coelho.

Havia mais de um motivo para a escolha do animal – mas nenhum deles realmente importava. Um deles é que o coelho é símbolo de boa sorte para os japoneses, que deram origem à toda empreitada da Vibratex. Outro é que o animal corresponde ao signo chinês de Shay.

O coelho chegou às lojas em 1984, mas não foi exatamente um sucesso. A ideia era boa, mas não foi o suficiente para se tornar um símbolo. A mudança aconteceu quase dez anos depois. Em 1993, surgiu nos EUA uma gigantesca rede de sextoys, a Babeland. O Rabbit foi um dos primeiros produtos a serem vendidos por lá, e chegou na nova toca com uma novidade: até então, era comum que vibradores fossem acionados por um controle a fio. O novo Rabbit não. Suas pilhas e comandos eram localizados na base do vibrador. Tirar o fio significava dar mais conforto. E conforto é tudo que importa no mercado de sextoys. Bombou.

Nos próximos cinco anos, o Rabbit se consolidou como um gigante no mercado erótico, mas ainda não era um símbolo. Em 1999 isso mudou. Aproveitando suas quatro patas de coelho, o vibrador deu uma baita sorte: o seriado mais importante da década era justamente sobre, olhe só, sexo.

O brinquedo protagonizou o nono episódio da primeira temporada de Sex And The City. O Rabbit é tão importante para o capítulo que até deu nome a ele, que se chama The Turtle and the Hare (A tartaruga e a lebre).


As vendas explodiram. Milhões de unidades do Rabbit começaram a ser vendidas. O Rabbit não era mais um vibrador. Era um símbolo da cultura pop.

De lá pra cá o que veio foi lucro. Literalmente. E as artes sempre ajudaram o produto, que virou queridinho de Hollywood. Em 2005, por exemplo, a atriz Eva Longoria (que na época interpretava Gabi em Desperate Housewives) deu uma entrevista à revista SELF dizendo que dava Rabbits de presente para todas suas amigas. Naquele ano as vendas subiram 30%. Logo depois, em 2006, Oprah (a Hebe dos States) chamou o coelhinho de "Rolls Royce dos sextoys".

De pulo em pulo, o coelho chegou à fama. Não tão famoso quanto seu primo, da Páscoa. Mas pelo menos ele existe.

Sobre o Autor

Felipe Germano é jornalista que escreve sobre Comportamento Humano, Saúde, Tecnologia e Cultura Pop. Para encontrar as boas histórias que procura contar, atravessa o planeta: visitou de clubes de swing e banheiros do sexo paulistanos à sets de cinema hollywoodianos. Trabalhou nas redações da rádio Jovem Pan, site Elástica, Revista Época e Revista Superinteressante - e agora colabora com o UOL.

Sobre o Blog

Sexo é o que há de mais antigo nesse planeta, e tecnologia nos traz o que há de mais moderno. Mesmo sem saber quem foi nosso antepassado mais antigo, dá para cravar: ele transava. Mas se engana quem acha que o sexo não mudou nada desde a primeira vez. A tecnologia evoluiu, e com ela nossos hábitos na cama (ou no chão, ou no celular...). Mas dá para juntar tudo, e divertir-se. Muito prazer, esse é o Sexting.