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Girls do Porn: conheça os bastidores da produtora que traficava mulheres

Felipe Germano

25/10/2019 04h00

Montagem com ícones de Freepik, Smalllikeart | www.flaticon.com

Uma notícia péssima movimentou o mundo pornô nos últimos dias: os donos da Girls do Porn, produtora online de filmes adultos multimilionária, estão sendo acusados de tráfico sexual. O FBI conduziu a investigação que encontrou 22 mulheres entre 18 e 22 anos que foram vítimas da empresa. Agora, mais detalhes do sistema criminoso começaram a ser revelados.

O site Vice News conversou com Monica Evans, uma das vítimas do esquema, que contou detalhes de como a operação criminosa acontecia. E a história é tão ruim quanto poderia ser.

À reportagem, Monica contou que seu problema começou em 2013. Ela, com 18 anos recém-completados, entrou no Craigslist (site extremamente popular nos EUA, onde anúncios de todo tipo são publicados) à procura de trabalho. Seus pais haviam acabado de lhe informar que ela teria que bancar seus estudos na faculdade, então ela foi atrás de algum bico.

Ela encontrou encontrou uma vaga para "show de modelagem" rapidamente, e entrou em contato com o anunciante, pedindo mais informações. O cara chamava-se Mark, pediu umas fotos dela, inclusive nuas, para ver se ela estava apta ao trabalho. Ela mandou e ele fez a oferta: US$ 2 mil para o bico de modelo. Ele também pagaria passagens de avião para ela ir a San Francisco fazer a modelagem. Muito legal, ela topou.

Poucos dias antes da viagem, no entanto, Mark ligou de novo para ela. Na verdade, eles gravariam um filme pornô. Mas ele pedia calma: os vídeos nunca seriam postados online. As filmagens seriam disponibilizadas em DVD e só para um grupo seleto de colecionadores. Para tranquilizá-la, ele colocou Monica para conversar com algumas outras garotas que já tinham feito o mesmo. Todas corroboraram a versão. Hoje o FBI sabe que elas foram pagas para mentir.

Nesses termos, Monica topou. Pegou o avião e, assim que desembarcou, foi recepcionada por um ator pornô e um cameraman. Logo ofereceram bebidas e a levaram para um quarto de hotel.

Lá pediram para assinar documentos, sem deixar que ela lesse e fizeram o combinado: ela faria cinco cenas, cada uma com cinco minutos de duração. Depois era só pegar um avião e voltar para casa. Mentira. "[Depois de um tempo] eu estava com tanta dor. Não queria continuar, e eles diziam 'Não, você assinou um contrato, são só mais 10 minutos'", afirmou Monica à revista "Vice". "Eu fiquei lá por quatro ou cinco horas. Foi tortura", completa.

Para as meninas, essa era só metade do pesadelo. Poucos dias depois, o vídeo era publicado online. A promessa de sigilo era completamente destruída, assim como a vida das vítimas. Em pouco tempo familiares, amigos e colegas das meninas tinham acesso às filmagens. Ainda de acordo com a reportagem, ao menos quatro das 22 vítimas que fazem parte da investigação tiveram comportamentos suicidas.

O Washington Post apurou que algumas das vítimas não caíram do golpe pelo Craigslist. Um site chamado de BeginModeling.com (Algo como "Comece a ser modelo.com") também servia para captar meninas.

O FBI descobriu ainda que algumas garotas foram "forçadas a performar certos atos sexuais dos quais tinham se negado". E que, caso não fizessem, "não seriam pagas ou liberadas para ir embora".

A investigação ainda revelou que, ao tentar sair do local, algumas meninas foram ameaçadas de processo por terem assinado os documentos sem ler.

"Família, amigos e o público em geral eventualmente viram os vídeos online, como resultado algumas vítimas foram assediadas, ridicularizadas e afastadas de suas famílias, algumas foram sexualmente assediadas e há pelo menos um caso de estupro", afirma o FBI em comunicado.

A agência de inteligência americana está acusando Michael Pratt, Matthew Wolfe (donos do site), Ruben Garcia (ator pornô) e Valorie Moser (funcionária) por tráfico sexual. Caso condenados, a pena mínima é de 15 anos de prisão. A máxima é de prisão perpétua, com fiança de US$ 250 mil (R$ 1 milhão). Barato, até, já que a produtora pornô lucrou US$ 17 milhões (R$ 70 milhões) enquanto existiu. Pratt segue foragido, mas todos os outros acusados estão detidos.

Sobre o Autor

Felipe Germano é jornalista que escreve sobre Comportamento Humano, Saúde, Tecnologia e Cultura Pop. Para encontrar as boas histórias que procura contar, atravessa o planeta: visitou de clubes de swing e banheiros do sexo paulistanos à sets de cinema hollywoodianos. Trabalhou nas redações da rádio Jovem Pan, site Elástica, Revista Época e Revista Superinteressante - e agora colabora com o UOL.

Sobre o Blog

Sexo é o que há de mais antigo nesse planeta, e tecnologia nos traz o que há de mais moderno. Mesmo sem saber quem foi nosso antepassado mais antigo, dá para cravar: ele transava. Mas se engana quem acha que o sexo não mudou nada desde a primeira vez. A tecnologia evoluiu, e com ela nossos hábitos na cama (ou no chão, ou no celular...). Mas dá para juntar tudo, e divertir-se. Muito prazer, esse é o Sexting.