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Filhos da quarentena: o covid trará uma nova leva de bebês daqui a 9 meses?

Felipe Germano

14/05/2020 04h00

L N / Unsplash

Mundo afora, milhões de casais estão trancafiados em suas próprias casas. E enquanto isso tem ocasionado situações preocupantes (como o aumento da violência doméstica na América Latina), há sem dúvidas um lado bom para os pombinhos. Passar mais tempo junto é inevitável e depois de terminar todas as séries da Netflix, bom, talvez não esteja passando nada na TV… e vocês terminem na cama. Várias vezes. Mas esse sexo pandêmico pode ter alguma consequência? Daqui a nove meses a gente vai ver o resultado no mundo todo? É o que pesquisadores ao redor do mundo estão tentando descobrir.

Há quem diga que não:

A pesquisa mais recente sobre o tema saiu semana passada. Um grupo de cientistas da Universidade de Florença resolveu investigar se uma visita em massa da cegonha podia ser esperada em breve. E a reposta foi não. Pelo menos para os casais que estavam planejando ter um bambino por perto nos próximos meses.

O estudo ouviu 1.482 pessoas e 1.214 delas (81%) cravou que não tinha a menor intenção de conceber uma criança nos próximos tempos. Mais do que isso: 268 entrevistados (37%) desistiu dos planos de ter um filho por enquanto, justamente por causa do corona.

Dá para entender. A justificativa bate justamente nos dois pontos que mais preocupam a gente hoje: dinheiro e saúde. 58% dos correspondentes afirmaram que o motivo de evitar ter crianças agora é a instabilidade financeira que o mundo está vivendo. A Organização Internacional do Trabalho já estimou que pelo menos 195 milhões de pessoas percam o emprego por causa do corona. De fato, não é a melhor época para ter mais uma boca para alimentar. Também 58% (os entrevistados podiam escolher mais de uma alternativa) dos participantes afirmaram que evitaria uma gravidez enquanto não houver certeza de quais efeitos essa pandemia poderia ter sobre a maternidade. Justíssimo.

Olhar para a história com atenção também nos ajuda a entender porque esse momento é tão único, especificamente no quesito de filhos pós-desastre.

Um estudo que procurou entender o boom de crianças depois da gripe espanhola na Noruega deixa isso claro: houve, de fato, um aumento no número de bebês, mas isso aconteceu porque a doença em questão matava muitas crianças. "Provavelmente isso acarretou com que casais tivessem novos filhos para substituir os que foram perdidos", afirma na conclusão Svenn-Erik Mamelund, pesquisador da Universidade de Oslo e responsável pelo estudo.

Mesmo em relação aos baby boomers, crianças que nasceram após a Segunda Guerra Mundial, um paralelo pode ser arriscado. Em entrevista ao Valor, José Eustáquio Diniz Alves, professor aposentado da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, explica que há uma diferença brutal entre o passado e o presente: a evolução dos métodos contraceptivos. "Com essa incerteza toda, a fecundidade vai continuar caindo em 2021, vai cair mais ainda em todos os países do mundo", afirmou.

Mas há quem diga que sim:

Evgeni Tcherkasski / Unsplash

Isso, no entanto, se refere à gravidez desejada. No mundo dos acidentes, a história pode ter alguns outros contornos.

A própria ONU já se mostrou preocupada com o assunto. O Fundo Populacional da Organização produziu um estudo que prevê que até 47 milhões de mulheres ao redor do mundo fiquem sem acesso a métodos contraceptivos por conta da pandemia. A relação se daria pelo fechamento de estabelecimentos de saúde, diminuição nas fábricas e distribuição de medicamentos e métodos – além do simples medo de sair na rua impedir que camisinhas e remédios sejam adquiridos. Sete milhões de crianças nasceriam desse problema.

O problema pode aparecer mesmo em países ricos, como na Inglaterra. O Serviço Britânico de Aconselhamento sobre Gravidez também já afirmou que está esperando "picos" de grávidas nos próximos meses. Mais uma vez por conta da falta de acesso a métodos contraceptivos.

Nesse contexto, é difícil prever o que vai acontecer com muita precisão. O que dá para cravar é que, cada vez menos gente quer ter um filho em meio ao corona – ao mesmo tempo, está ficando difícil se prevenir. Ou seja, tente comprar uma camisinha na próxima ida (de máscara) ao mercado. Vai te ajudar mais do que qualquer um pode prever por enquanto.

Sobre o Autor

Felipe Germano é jornalista que escreve sobre Comportamento Humano, Saúde, Tecnologia e Cultura Pop. Para encontrar as boas histórias que procura contar, atravessa o planeta: visitou de clubes de swing e banheiros do sexo paulistanos à sets de cinema hollywoodianos. Trabalhou nas redações da rádio Jovem Pan, site Elástica, Revista Época e Revista Superinteressante - e agora colabora com o UOL.

Sobre o Blog

Sexo é o que há de mais antigo nesse planeta, e tecnologia nos traz o que há de mais moderno. Mesmo sem saber quem foi nosso antepassado mais antigo, dá para cravar: ele transava. Mas se engana quem acha que o sexo não mudou nada desde a primeira vez. A tecnologia evoluiu, e com ela nossos hábitos na cama (ou no chão, ou no celular...). Mas dá para juntar tudo, e divertir-se. Muito prazer, esse é o Sexting.