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O que é cuckold, o fetiche cada vez mais pesquisado pelos brasileiros?

Felipe Germano

17/05/2019 09h12

Os relógios cuco estão por aí desde, pelo menos, 1629 (quando encontraram o primeiro modelo, na Alemanha). A mecânica é baseada numa ideia engraçadinha: um passarinho sai, de hora em hora da casinha e grita "cuco" para marcar os 60 minutos que passaram.

O tal do cuco é um animal de verdade, um pássaro que, veja só, sai de casa para viver a vida e volta horas depois. Fofo, né? Só que essa história inspirou bem mais do que um modelo de relógio. Os cucos também dão nome à um fetiche que ganha cada vez mais espaço no Brasil: o cuckold.

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Indo direto ao ponto: cuckold é o nome que se dá à prática onde um homem sente tesão em ver sua parceira transando com outras pessoas (aqui, chamadas de "bulls"). Ser corno, para os praticantes, não é um problema – mas um objetivo.

A relação com o nome do passarinho é direta: na vida real, quando o animal sai de sua casinha seu propósito não é avisar a hora para quem está perto, mas visitar ninhos das redondezas. Quando está pronta para botar ovos, a fêmea cuco procura ninhos de outros pássaros. Se achar algum cuja mãe foi dar uma voltinha, ela mata um dos ovos que ali está, coloca seu próprio ovinho no lugar e vai embora. Outra mãe que irá cuidar.

Jogo sujo, mas que mexeu a imaginação de muita gente. Na teoria, o nome da prática vem justamente do desejo de ser alvo de uma infidelidade desse tipo.

Trata-se de uma vertente masoquista. Sua experiência com a situação pode acontecer de diferentes maneiras. Ele pode gostar de ver o ato acontecendo (o que é comum em casas de swing, por exemplo), acompanhar remotamente (por meio de ligações, vídeos e mensagens) ou simplesmente saber do que rolou.

Há ainda casais que se aproveitam das cintas de castidade – onde o pênis é colocado em sextoys que impedem a masturbação. Nessa situação, o homem pode ver sua parceira transando, mas não é permitido nem mesmo a se masturbar vendo o ato.

É interessante apontar que, apesar do que pode parecer à primeira vista, não existe traição dentro da comunidade cuckold. A prática é acordada. Só é possível realizar um fetiche cuckold se o traído quiser acompanhar o desenrolar da coisa – e claro, se a infiel topar ser infiel. Se alguém trai fora do combinado, não há fetiche envolvido.

Se você está torcendo o nariz para essa história, saiba que no Brasil a prática não para de crescer. E quem está falando isso não sou eu, é o Google.

O gráfico acima mostra a frequência de busca do termo no Google Brasil, desde 2004. O aumento é gritante. Se analisarmos, por exemplo, o mês de dezembro, conseguimos ver que o número de pesquisas aumentou em quase 800% nos últimos 15 anos. A procura pelo termo "corno" acompanhou. Também vem crescendo exponencialmente.

Outro fenômeno é o das mulheres. Quando a vontade da infidelidade é feminina, o termo muda: são as chamadas "cuckqueans". A lógica é exatamente a mesma, e também já é possível notar um crescimento expressivo nas buscas pelo termo no Brasil.

Outra prova do interesse de brasileiros no assunto é a quantidade de pornografia temática para os tupiniquins. Só no XVideos, pesquisar por "Cuckold Brasil" te dá acesso à mais de 42 mil vídeos sobre o assunto. "Cuckquean Brasil" tem 23 mil e "Corno", 22 mil.

O fetiche, no entanto, é global. De acordo com o Pornhub, só em 2018, as pesquisas na Rússia envolvendo o termo cresceram 308%. Na França, então, nem se fale. A terra da Torre Eiffel curte tanto a prática que as pesquisas por lá possuem uma média 80% maior do que no resto do mundo.

Com tanta procura, o mercado já está lucrando em cima do fetiche. Já é comum ver casas de swing cuja temática da noite é justamente cuckold. Sexshops também tem linhas de produtos (como a tal cinta de castidade) focada especialmente nesse público. E redes sociais, como a Mundo Erótico, Fetlife e Sexlog também possuem grande audiência vinda justamente dos cucks (como eles mesmo se apelidam).

A verdade é: você não precisa participar da prática, mas vale conhecê-la. Mais do que isso, já passou da hora de não julgar os fetiches dos outros. Se for pra ficar parado no tempo, que seja comprando um relógio antigo – modelo cuco, de preferência.

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Sobre o Autor

Felipe Germano é jornalista que escreve sobre Comportamento Humano, Saúde, Tecnologia e Cultura Pop. Para encontrar as boas histórias que procura contar, atravessa o planeta: visitou de clubes de swing e banheiros do sexo paulistanos à sets de cinema hollywoodianos. Trabalhou nas redações da rádio Jovem Pan, site Elástica, Revista Época e Revista Superinteressante - e agora colabora com o UOL.

Sobre o Blog

Sexo é o que há de mais antigo nesse planeta, e tecnologia nos traz o que há de mais moderno. Mesmo sem saber quem foi nosso antepassado mais antigo, dá para cravar: ele transava. Mas se engana quem acha que o sexo não mudou nada desde a primeira vez. A tecnologia evoluiu, e com ela nossos hábitos na cama (ou no chão, ou no celular...). Mas dá para juntar tudo, e divertir-se. Muito prazer, esse é o Sexting.